O Porque do Porquê
Era só um ponto de ônibus ali, próximo ao centro da cidade. O abre-fecha sincronizado das sinaleiras de trânsito, o vai-e-vem frenético e caótico dos automóveis, os pombos brancos, pretos, cinzas comendo milho e voando assustados no meio da praça, poucos transeuntes, estudantes e mendigos no largo. Para os dois homens sentados no banco de madeira, era só um ponto de ônibus. O silêncio entre os dois era gritante. Não existia nada mais que o silêncio.
Havia uns dez minutos estavam ali, imóveis, duas estátuas humanas sem assunto, sem um porquê.
Um moveu a cabeça lentamente em três piscadelas: na primeira olhou pro chão; na segunda, pra frente; na última, o céu. Contemplou-o por um breve instante, azul limpo e limpído, de um dia qualquer: hoje, amanhã ou depois talvez.
– Por quê – disse Um.
O Outro, ainda estático, respondeu num meneio involuntário:
– Por que o quê?
– Pronto: Porque o “porque o quê”?
O Outro virou o pescoço lentamente e encarou o Um numa diagonal superior quase-frontal.
– O quê?
– Porque o “porque o quê”?
– O que você quer saber?
– Só quero saber o porquê?
– O porquê de que? – o Outro voltou a olhar pra frente.
– Do porque.
– O que que isso tem que ver?
– Porque ninguém sabe responder?
– É... porquê?
– Eu pergunto porque aqui.
– Porquê?
– Porque eu que quero saber porquê.
– O que exatamente você quer saber?
– Eu quero um porquê.
– Um porquê. Um porquê de quê?
– Apenas um porquê.
– Quem é que pode saber?
– Não sei, mas tem de haver um porquê.
– Digo que não há porquê.
– Por que não haveria um porquê?
– E por que um porquê?
– Eu pergunto o porquê aqui!
– Porquê?
– Porque eu preciso saber.
– Olhe aí um porquê.
– Mas não é o porquê do porquê.
– O que quererá um porquê?
– É o que quero entender.
– E se não houver um porquê?
– Tudo que há há um porquê.
– Mas o que mesmo isso tem que ver?
– O que ver com quê?
– O porquê tem que ver com o quê?
– Não sei. Você não me disse porque.
– Você me perguntou porque...
– E você não soube responder.
– Porque não pude responder?
– Não sei te dizer. Mas tem um porquê.
– Porquê? Porquê? Porquê?
– Ah! Olhe aí: esse é o meu ônibus – disse o Um. – Foi um prazer conhecer você.
O Outro continuou ali, no banco do ponto até chegar seu ônibus imaginando o porque do porquê, esperando que alguém ali que pudesse lhe responder. O Um foi pra sua casa e pediu uma pizza grande de quatro queijos pra comer.
E depois daquele dia os dois nunca mais voltaram a se ver e seguiram com suas vidas normalmente. Mesmo sem saber porquê.
Havia uns dez minutos estavam ali, imóveis, duas estátuas humanas sem assunto, sem um porquê.
Um moveu a cabeça lentamente em três piscadelas: na primeira olhou pro chão; na segunda, pra frente; na última, o céu. Contemplou-o por um breve instante, azul limpo e limpído, de um dia qualquer: hoje, amanhã ou depois talvez.
– Por quê – disse Um.
O Outro, ainda estático, respondeu num meneio involuntário:
– Por que o quê?
– Pronto: Porque o “porque o quê”?
O Outro virou o pescoço lentamente e encarou o Um numa diagonal superior quase-frontal.
– O quê?
– Porque o “porque o quê”?
– O que você quer saber?
– Só quero saber o porquê?
– O porquê de que? – o Outro voltou a olhar pra frente.
– Do porque.
– O que que isso tem que ver?
– Porque ninguém sabe responder?
– É... porquê?
– Eu pergunto porque aqui.
– Porquê?
– Porque eu que quero saber porquê.
– O que exatamente você quer saber?
– Eu quero um porquê.
– Um porquê. Um porquê de quê?
– Apenas um porquê.
– Quem é que pode saber?
– Não sei, mas tem de haver um porquê.
– Digo que não há porquê.
– Por que não haveria um porquê?
– E por que um porquê?
– Eu pergunto o porquê aqui!
– Porquê?
– Porque eu preciso saber.
– Olhe aí um porquê.
– Mas não é o porquê do porquê.
– O que quererá um porquê?
– É o que quero entender.
– E se não houver um porquê?
– Tudo que há há um porquê.
– Mas o que mesmo isso tem que ver?
– O que ver com quê?
– O porquê tem que ver com o quê?
– Não sei. Você não me disse porque.
– Você me perguntou porque...
– E você não soube responder.
– Porque não pude responder?
– Não sei te dizer. Mas tem um porquê.
– Porquê? Porquê? Porquê?
– Ah! Olhe aí: esse é o meu ônibus – disse o Um. – Foi um prazer conhecer você.
O Outro continuou ali, no banco do ponto até chegar seu ônibus imaginando o porque do porquê, esperando que alguém ali que pudesse lhe responder. O Um foi pra sua casa e pediu uma pizza grande de quatro queijos pra comer.
E depois daquele dia os dois nunca mais voltaram a se ver e seguiram com suas vidas normalmente. Mesmo sem saber porquê.
3 Comments:
At 14/7/06 12:15 AM, Ricardo Ferreira said…
Ainda estou tonto com tantos "porquês".
Por que tudo isso, por quê?
Falando sério, o porquê "é a gasolina da consciência" (Ricardo Ferreira).
At 14/7/06 11:27 PM, Anônimo said…
KKKKKKKKKKKKKKKKK
Legal se bem q os meus porques são diferentes!!!
A inspiração veio heim e eu sei por que !!!!rsrsrsrsrs
vlw cara em breve o meu estara no ar
At 17/7/06 6:36 PM, Anônimo said…
Rafael, postei um comentário pro texto sobre Vit. da Conquista. Gostei do seu blog, coisa rara de se ver com origem "suburbana" (me refero à antiga empresa de ônibus da cidade). Moro em Brasília e sempre volto pro Periperi destruído. Continuarei lendo seus versos, foi um prazer conhecê-lo.
Emerson Aprile
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